Artur Nabantino Gonçalves de Azevedo figurou, ao lado do irmão Aluísio
Azevedo, no grupo fundador da Academia Brasileira de Letras, onde criou a
Cadeira n. 29, que tem como patrono Martins Pena, não por acaso um
autor teatral. O teatro foi sempre a grande paixão de Artur.
Filho de David Gonçalves de Azevedo, vice-cônsul de Portugal em São Luís, e Emília Amália Pinto de Magalhães, pôde ver, na própria casa, uma dramática história de amor. Sua mãe separou-se de um comerciante, com quem casara a contragosto, para viver com seu pai com quem teve cinco filhos: três meninos e duas meninas. Só puderam se casar após a morte do primeiro marido, vítima de febre amarela.
Aos oito anos, Artur já demonstrava vocação para o teatro, brincando de adaptar textos de autores como Joaquim Manuel de Macedo. Pouco depois, passou a escrever, ele próprio, as peças que representava.
Muito cedo começou a trabalhar no comércio. Depois foi empregado na administração provincial, de onde foi demitido por ter publicado sátiras contra autoridades do governo. Ao mesmo tempo lançava as primeiras comédias nos teatros de São Luís. Aos quinze anos escreveu a peça "Amor por anexins", que obteve grande êxito, com mais de mil representações no século passado.
Participou de um concurso público, em São Luís, para o preenchimento de vagas de amanuense da Fazenda e, conseguindo a classificação, transferiu-se para o Rio de Janeiro, no ano de 1873. Logo passou a trabalhar no Ministério da Agricultura.
A princípio, dedicou-se também ao magistério, ensinando português. Mas foi no jornalismo que encontrou espaço para se projetar como um dos maiores escritores e teatrólogos brasileiros. Fundou publicações como "A Gazetinha", "Vida Moderna" e "O Álbum". Colaborou em "A Estação", ao lado de Machado de Assis, e no jornal "Novidades", ao lado de companheiros como Alcindo Guanabara, Moreira Sampaio, Olavo Bilac e Coelho Neto.
Foi um dos grandes defensores da abolição da escravatura, em seus artigos de jornal, em cenas de revistas dramáticas e em peças como "O Liberato" e "A Família Salazar", esta escrita em colaboração com Urbano Duarte, proibida pela censura imperial, e publicada mais tarde com o título de "O escravocrata".
Escreveu mais de quatro mil artigos sobre eventos artísticos, principalmente sobre teatro, nas seções que manteve em "O País" ("A Palestra"), no "Diário de Notícias" ("De Palanque"), em "A Notícia" (o folhetim "O Teatro"). Usava vários pseudônimos: Elói o herói, Gavroche, Petrônio, Cosimo, Juvenal, Dorante, Frivolino, Batista o trocista, entre outros.
A partir de 1879 dirigiu, com Lopes Cardoso, a Revista do Teatro. Por três décadas sustentou a campanha para a construção do Teatro Municipal, cuja inauguração não pôde assistir.
Embora escrevendo contos desde 1871, só em 1889 animou-se a reunir alguns deles no volume Contos possíveis, dedicado pelo autor a Machado de Assis, que então era seu companheiro na secretaria da Viação e um de seus mais severos críticos. Em 1894, publicou o segundo livro de histórias curtas, Contos fora de moda. Mais dois volumes foram publicados após sua morte: Contos cariocas e Vida alheia, reunindo histórias deixadas por Artur Azevedo nos vários jornais em que colaborara.
No conto, mas principalmente no teatro, sua grande paixão, Artur Azevedo explorou o cotidiano da vida fluminense. As relações amorosas, familiares ou de amizade, as cerimônias festivas ou fúnebres, tudo o que podia observar nas ruas ou nas casas. No teatro, continuou a obra de Martins Pena e de França Júnior. Suas comédias traziam hábitos da sociedade, fazendo um documentário bem humorado sobre a evolução da então capital brasileira.
Teve em vida cerca de uma centena de peças de vários gêneros e extensão (e mais trinta traduções e adaptações livres de peças francesas) encenadas em palcos nacionais e portugueses. Ainda hoje tem peças que cativam o público e são encenadas com alguma freqüência, como "A capital federal" e "O mambembe", apenas para citar as principais.
Filho de David Gonçalves de Azevedo, vice-cônsul de Portugal em São Luís, e Emília Amália Pinto de Magalhães, pôde ver, na própria casa, uma dramática história de amor. Sua mãe separou-se de um comerciante, com quem casara a contragosto, para viver com seu pai com quem teve cinco filhos: três meninos e duas meninas. Só puderam se casar após a morte do primeiro marido, vítima de febre amarela.
Aos oito anos, Artur já demonstrava vocação para o teatro, brincando de adaptar textos de autores como Joaquim Manuel de Macedo. Pouco depois, passou a escrever, ele próprio, as peças que representava.
Muito cedo começou a trabalhar no comércio. Depois foi empregado na administração provincial, de onde foi demitido por ter publicado sátiras contra autoridades do governo. Ao mesmo tempo lançava as primeiras comédias nos teatros de São Luís. Aos quinze anos escreveu a peça "Amor por anexins", que obteve grande êxito, com mais de mil representações no século passado.
Participou de um concurso público, em São Luís, para o preenchimento de vagas de amanuense da Fazenda e, conseguindo a classificação, transferiu-se para o Rio de Janeiro, no ano de 1873. Logo passou a trabalhar no Ministério da Agricultura.
A princípio, dedicou-se também ao magistério, ensinando português. Mas foi no jornalismo que encontrou espaço para se projetar como um dos maiores escritores e teatrólogos brasileiros. Fundou publicações como "A Gazetinha", "Vida Moderna" e "O Álbum". Colaborou em "A Estação", ao lado de Machado de Assis, e no jornal "Novidades", ao lado de companheiros como Alcindo Guanabara, Moreira Sampaio, Olavo Bilac e Coelho Neto.
Foi um dos grandes defensores da abolição da escravatura, em seus artigos de jornal, em cenas de revistas dramáticas e em peças como "O Liberato" e "A Família Salazar", esta escrita em colaboração com Urbano Duarte, proibida pela censura imperial, e publicada mais tarde com o título de "O escravocrata".
Escreveu mais de quatro mil artigos sobre eventos artísticos, principalmente sobre teatro, nas seções que manteve em "O País" ("A Palestra"), no "Diário de Notícias" ("De Palanque"), em "A Notícia" (o folhetim "O Teatro"). Usava vários pseudônimos: Elói o herói, Gavroche, Petrônio, Cosimo, Juvenal, Dorante, Frivolino, Batista o trocista, entre outros.
A partir de 1879 dirigiu, com Lopes Cardoso, a Revista do Teatro. Por três décadas sustentou a campanha para a construção do Teatro Municipal, cuja inauguração não pôde assistir.
Embora escrevendo contos desde 1871, só em 1889 animou-se a reunir alguns deles no volume Contos possíveis, dedicado pelo autor a Machado de Assis, que então era seu companheiro na secretaria da Viação e um de seus mais severos críticos. Em 1894, publicou o segundo livro de histórias curtas, Contos fora de moda. Mais dois volumes foram publicados após sua morte: Contos cariocas e Vida alheia, reunindo histórias deixadas por Artur Azevedo nos vários jornais em que colaborara.
No conto, mas principalmente no teatro, sua grande paixão, Artur Azevedo explorou o cotidiano da vida fluminense. As relações amorosas, familiares ou de amizade, as cerimônias festivas ou fúnebres, tudo o que podia observar nas ruas ou nas casas. No teatro, continuou a obra de Martins Pena e de França Júnior. Suas comédias traziam hábitos da sociedade, fazendo um documentário bem humorado sobre a evolução da então capital brasileira.
Teve em vida cerca de uma centena de peças de vários gêneros e extensão (e mais trinta traduções e adaptações livres de peças francesas) encenadas em palcos nacionais e portugueses. Ainda hoje tem peças que cativam o público e são encenadas com alguma freqüência, como "A capital federal" e "O mambembe", apenas para citar as principais.
Plebiscito
Arthur Azevedo
A cena passa-se em 1890.
A família está toda reunida na sala de jantar.
O senhor Rodrigues palita os dentes, repimpado numa cadeira de balanço. Acabou de comer como um abade.
Dona Bernardina, sua esposa, está muito entretida a limpar a gaiola de um canário belga.
Os pequenos são dois, um menino e uma menina. Ela distrai-se a olhar para o canário. Ele, encostado à mesa, os pés cruzados, lê com muita atenção uma das nossas folhas diárias.
Silêncio
De repente, o menino levanta a cabeça e pergunta:
— Papai, que é plebiscito?
O senhor Rodrigues fecha os olhos imediatamente para fingir que dorme.
O pequeno insiste:
— Papai?
Pausa:
— Papai?
Dona Bernardina intervém:
— Ó seu Rodrigues, Manduca está lhe chamando. Não durma depois do jantar, que lhe faz mal.
O senhor Rodrigues não tem remédio senão abrir os olhos.
— Que é? que desejam vocês?
— Eu queria que papai me dissesse o que é plebiscito.
— Ora essa, rapaz! Então tu vais fazer doze anos e não sabes ainda o que é plebiscito?
— Se soubesse, não perguntava.
O senhor Rodrigues volta-se para dona Bernardina, que continua muito ocupada com a gaiola:
— Ó senhora, o pequeno não sabe o que é plebiscito!
— Não admira que ele não saiba, porque eu também não sei.
— Que me diz?! Pois a senhora não sabe o que é plebiscito?
— Nem eu, nem você; aqui em casa ninguém sabe o que é plebiscito.
— Ninguém, alto lá! Creio que tenho dado provas de não ser nenhum ignorante!
— A sua cara não me engana. Você é muito prosa. Vamos: se sabe, diga o que é plebiscito! Então? A gente está esperando! Diga!...
— A senhora o que quer é enfezar-me!
— Mas, homem de Deus, para que você não há de confessar que não sabe? Não é nenhuma vergonha ignorar qualquer palavra. Já outro dia foi a mesma coisa quando Manduca lhe perguntou o que era proletário. Você falou, falou, falou, e o menino ficou sem saber!
— Proletário — acudiu o senhor Rodrigues — é o cidadão pobre que vive do trabalho mal remunerado.
— Sim, agora sabe porque foi ao dicionário; mas dou-lhe um doce, se me disser o que é plebiscito sem se arredar dessa cadeira!
— Que gostinho tem a senhora em tornar-me ridículo na presença destas crianças!
— Oh! ridículo é você mesmo quem se faz. Seria tão simples dizer: — Não sei, Manduca, não sei o que é plebiscito; vai buscar o dicionário, meu filho.
O senhor Rodrigues ergue-se de um ímpeto e brada:
— Mas se eu sei!
— Pois se sabe, diga!
— Não digo para me não humilhar diante de meus filhos! Não dou o braço a torcer! Quero conservar a força moral que devo ter nesta casa! Vá para o diabo!
E o senhor Rodrigues, exasperadíssimo, nervoso, deixa a sala de jantar e vai para o seu quarto, batendo violentamente a porta.
No quarto havia o que ele mais precisava naquela ocasião: algumas gotas de água de flor de laranja e um dicionário...
A menina toma a palavra:
— Coitado de papai! Zangou-se logo depois do jantar! Dizem que é tão perigoso!
— Não fosse tolo — observa dona Bernardina — e confessasse francamente que não sabia o que é plebiscito!
— Pois sim — acode Manduca, muito pesaroso por ter sido o causador involuntário de toda aquela discussão — pois sim, mamãe; chame papai e façam as pazes.
— Sim! Sim! façam as pazes! — diz a menina em tom meigo e suplicante. — Que tolice! Duas pessoas que se estimam tanto zangaram-se por causa do plebiscito!
Dona Bernardina dá um beijo na filha, e vai bater à porta do quarto:
— Seu Rodrigues, venha sentar-se; não vale a pena zangar-se por tão pouco.
O negociante esperava a deixa. A porta abre-se imediatamente.
Ele entra, atravessa a casa, e vai sentar-se na cadeira de balanço.
— É boa! — brada o senhor Rodrigues depois de largo silêncio — é muito boa! Eu! eu ignorar a significação da palavra plebiscito! Eu!...
A mulher e os filhos aproximam-se dele.
O homem continua num tom profundamente dogmático:
— Plebiscito...
E olha para todos os lados a ver se há ali mais alguém que possa aproveitar a lição.
— Plebiscito é uma lei decretada pelo povo romano, estabelecido em comícios.
— Ah! — suspiram todos, aliviados.
— Uma lei romana, percebem? E querem introduzi-la no Brasil! É mais um estrangeirismo!...
Arthur Nabantino Gonçalves de Azevedo, nascido em São Luís do Maranhão a 07 de julho de 1855, é uma das grandes figuras do humorismo brasileiro. Foi jornalista, comediógrafo, contista e poeta. Em toda sua obra campeia um fino e gracioso humorismo. Autor dos "Contos Possíveis", "Contos Efêmeros", "Contos fora de moda", "Contos em verso", "Contos Cariocas" e "Vida alheia", espalhou também sua verve em dezenas de revistas teatrais e de esfuziantes comédias, entre as quais sobressaem "O Dote", "A Almanjarra", "A Véspera de Reis", "O Oráculo", "Vida e Morte", "Entre a Missa e o Almoço", "Entre o Vermute e a Sopa", "Retrato a Óleo" e "O amor por Anexins". Trabalhou nos principais jornais da época, no Rio de Janeiro, tendo fundado e dirigido "A Gazetinha", "Vida Moderna" e "O Álbum". Membro fundador da Academia Brasileira de Letras, em que ocupou a cadeira n. 29, para a qual tomou Martins Penna como patrono, faleceu no Rio de Janeiro a 22 de outubro de 1908.
Texto extraído do livro “Contos fora da moda”, Editorial Alhambra – Rio de Janeiro, 1982, pág. 29.
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