terça-feira, 26 de março de 2013

Machado de Assis

Machado de Assis

Joaquim Maria Machado de Assis nasceu pobre e epilético. Era filho de Francisco José Machado de Assis e de Leopoldina Machado de Assis, neto de escravos alforriados. Foi criado no morro do Livramento, no Rio de Janeiro. Ajudava a família como podia, não tendo freqüentado regularmente a escola.

Sua instrução veio por conta própria, devido ao interesse que tinha em todos os tipos de leitura. Graças a seu talento e a uma enorme força de vontade, superou todas essas dificuldades e tornou-se em um dos maiores escritores brasileiros de todos os tempos.

Entre os seis e os 14 anos, Machado perdeu sua única irmã, a mãe e o pai. Aos 16 anos empregou-se como aprendiz numa tipografia e publicou os primeiros versos no jornal "A Marmota". Em 1860, foi convidado por Quintino Bocaiúva para colaborar no "Diário do Rio de Janeiro". Datam dessa década quase todas as suas comédias teatrais e o livro de poemas "Crisálidas".

Não levante a espada sobre a cabeça de quem te pediu perdão.

Em 12 de novembro de 1869 casou-se com Carolina Augusta Xavier de Novais. Esse casamento ocorreu contra a vontade da família da moça, uma vez que Machado tinha mais problemas do que fama. Essa união durou cerca de 35 anos e o casal não teve filhos. Carolina contribuiu para o amadurecimento intelectual de Machado, revelando-lhe os clássicos portugueses e vários autores de língua inglesa.

Na década de 1870, Machado publicou os poemas "Falenas" e "Americanas"; além dos "Contos Fluminenses" e "Histórias da meia-noite". O público e a crítica consagraram seus méritos de escritor. Publicou os romances: "Ressurreição" (1872); "A Mão e a Luva" (1874); "Helena" (1876); "Iaiá Garcia" (1878). Essas obras ainda estão ligadas à literatura romântica e formam a chamada primeira fase de Machado de Assis.

Em 1873, o escritor foi nomeado primeiro oficial da secretaria de Estado do Ministério da Agricultura, Comércio e Obras públicas. A sua carreira burocrática teve uma ascensão muito rápida, uma vez que, em 1892, já era diretor geral do Ministério da Viação. O emprego público garantiu a estabilidade financeira, uma vez que viver de literatura naquela época era quase impossível, mesmo para os bons escritores.

Na década de 1880, a obra de Machado de Assis sofreu uma verdadeira revolução, em termos de estilo e de conteúdo, inaugurando o Realismo na literatura brasileira. Os romances "Memórias póstumas de Brás Cubas" (1881); "Quincas Borba" (1891); "Dom Casmurro" (1899) e os contos "Papéis avulsos" (1882); "Histórias sem data" (1884), "Várias histórias" (1896) e "Páginas recolhidas" (1899), entre outros, revelam o autor em sua plenitude. O espírito crítico, a grande ironia, o pessimismo e uma profunda reflexão sobre a sociedade brasileira são as suas marcas mais características.

Em 1897, Machado fundou a Academia Brasileira de Letras, da qual foi o primeiro presidente, pelo que a instituição também conhecida como casa de Machado de Assis. Ocupou a Cadeira N.º 23, de cujo patrono, José de Alencar, foi amigo e admirador.

Em 1904, a morte de sua mulher foi um duro golpe para o escritor. Depois disso, raramente ele saía de casa e sua saúde foi piorando por causa da epilepsia. Os problemas nervosos e uma gagueira contribuíram ainda mais para o seu isolamento. São dessa época seus últimos romances "Esaú e Jacó" (1904) e "Memorial de Aires" (1908), que fecham o ciclo realista iniciado com "Brás Cubas"

Machado de Assis morreu em sua casa situada na rua Cosme Velho. Foi decretado luto oficial no Rio de Janeiro e seu enterro, acompanhado por uma multidão, atesta a fama alcançada pelo autor.


Dom Casmurro
Por Machado de Assis
Realismo. A história toda se passa no Rio de Janeiro do Segundo Império e conta a história de Bento e Capitolina, esta sendo descrita por José Dias, agregado da mãe de Bento, como tendo "olhos de cigana"; a infância, onde surge a paixão com Capitu, primeiro estranha e depois mais bem definida, a juventude de Bento no Seminário ao lado de Escobar, seu melhor amigo até a morte deste por afogamento, o casamento de Bentinho e Capitu, após a mãe deste cumprir a promessa de enviar um rapaz ao serviço da Igreja mandando um "enjeitadinho" ao seminário no lugar de Bento e a separação devido ao ciúme de Bentinho por Capitu com Escobar, mesmo depois deste morrer. Ele manda então a esposa e seu filho para a Europa por causa do ciúme, quase matando-os antes envenenados. Seu encontro com o filho, muitos anos mais tarde, é frio e distante, já que a todo o instante ele o compara com Escobar, seu melhor amigo que ele achava o ter traído e ser o pai do então já jovem estudante de Arqueologia, que falece, meses depois numa escavação no estrangeiro, sem jamais ver o pai novamente. Um romance psicológico, sob o ponto de vista de Bentinho, nunca se tem certeza de que Capitolina traiu-o ou não. A favor da tese da traição existe o fato que Bento sempre parece falar a verdade, as semelhanças achadas por Bento entre seu filho e Escobar e o fato que os outros descreviam Capitu como maliciosa quando esta era jovem. Contra a tese existe que Capitu reclamou de seu ciúme e nunca efetivamente fez muita coisa que desse motivo de suspeita, exceto uma vez em que manteve um segredo com Escobar, que era casado. Este humilde escritor acha que Bento não foi traído, mas isso é essencialmente pessoal.


Memórias Póstumas de Brás Cubas
Por Machado de Assis
Realismo. A história é narrada por Brás Cubas, um defunto autor que após narrar sua morte e funeral começa a contar a sua vida. Conta a infância, as travessuras, o primeiro namoro com Marcela (interesseira e bela, fica pobre e feia), um namoro com Eugênia (que acaba pobre) e mais tarde seu noivado com Virgília. Como Virgília casa com outro eles mais tarde se tornam amantes. O romance era ajudado por Dona Plácida (que também morre pobre) e acaba quando esta vai para o Norte com o marido. Conta então seu reencontro com o amigo Quincas Borba (primeiro na miséria, depois rico, depois miserável e louco), que lhe expõem sua filosofia, o Humanitismo. Cubas passa seguir o Humanitismo. Já deputado, não se reelege ou se torna ministro e funda um jornal de oposição baseado no Humanitismo. Mais velho se volta para a caridade e morre logo após criar um emplasto que curaria a hipocondria e lhe traria fama.

Quincas Borba
Por Machado de Assis
Realismo. Continuação de Memórias Póstumas de Brás Cubas, Quincas Borba conta a história do ex-professor primário Pedro Rubião de Alvarenga, que após cuidar do filósofo Quincas Borba até a morte, recebe dele toda a fortuna sob a condição de tomar conta do cachorro, que também tem o nome de Quincas Borba. Rubião muda-se então para o Rio. No caminho conhece o casal Sofia e Cristiano Palha. Apaixonado por Sofia e ingênuo, Rubião vai sendo explorado e aproveitado por todos os amigos, que lhe tomam dinheiro emprestado, lhe pedem favores, jantam em sua casa mesmo quando ele não está, etc. Vai envolvendo-se sem sucesso com a política e perdendo muito dinheiro com gastos exagerados e empréstimos. Cristiano e Sofia (que não corresponde o amor) vão se aproveitando dele muito mais, subtraindo-lhe a fortuna, saindo do estado original de dívidas para um de opulência no final. A medida que o tempo passa, a decadência material e o desespero de não ter correspondido seu amor leva Rubião a enlouquecer. Enquanto no começo travava "discussões" com Quincas Borba (o cão), depois começa a pensar ser Napoleão III e Sofia sua esposa Eugênia. Passa a nomear todos nobres e generais, ter visões, falar sozinho. Quando ao final é internado num manicômio, sua fortuna não é mais 1% do que antes fora. Ele foge do manicômio e volta para Barbacena, de onde saíra após enriquecer, levando apenas Quincas Borba. Enlouquecido e pobre, é recolhido pela comadre e morre louco, corando-se Napoleão III, repetindo incessantemente nos seus últimos dias a célebre frase "Ao vencedor, as batatas!" Narrado em terceira pessoa, cheio de ironia sofisticada, uma personagem feminina dissimulada, uma dúvida constante (Quincas Borba é o título por causa do cão ou do filósofo?), esta é uma das melhores e mais famosas obras de Machado de Assis.

Esaú e Jacó
Por Machado de Assis
Realismo. Contada como que por um autor que teve acesso ao Memorial do Conselheiro Aires, usa o volume último de seus cadernos. Começa contando a história de Natividade que, grávida de gêmeos em 1871, consulta uma vidente. Esta lhe diz que seus filhos, apesar de estarem brigando em seu ventre, terão grande futuro. Ao sair, de tão feliz, dá uma esmola grande a um mendigo ("para as almas", mas ele guarda o dinheiro). Desde quando nascem os jovens Pedro e Paulo tornam-se contrários. As disputas uterinas tornam-se políticas já que Paulo é republicano e Pedro monarquista, Pedro tornar-se-á advogado, Paulo médico. Eles estudam separados (Paulo em São Paulo, Pedro no Rio) e conhecem em 1888 a filha de um casal de políticos, Flora, pela qual se apaixonam. E ela corresponde o amor aos dois. Assim os irmãos desunidos unem-se e competem pelo amor de Flora. O Conselheiro Aires, amigo das duas famílias, trabalha junto com os pais dela para que ela escolha um ou nenhum, mas escolha. Assim transcorre o tempo com os irmãos discutindo a política desde a Abolição, passando pela Proclamação da República e a queda de Deodoro (os pais de Pedro e Paulo e os de Flora são políticos e nunca parecem saber quem estará no poder). A distância por vezes separa o trio, mas eles permanecem (des)unidos. Flora é cortejada por outras, incluindo Nóbrega, o mendigo de 1871 enriquecido mais tarde, mas ela rejeita a todos. Quando em 1892, durante o estado de sítio declarado por Floriano Peixoto, Flora morre, os irmãos se unem na dor e reconciliam-se. Um mês depois renasce a inimizade. Mais um ano e tornam-se deputados (em partidos opostos, logicamente). Quando a mãe morre, pede que ambos tornem-se amigos e eles juram que o farão. No ano seguinte são vistos sempre juntos na Câmara. No seguinte àquele, desentendem-se novamente. Uma maravilhosa mostra da capacidade de Machado de Assis, esta obra foge do maniqueísmo do esquema gêmeo bom - gêmeo mau, mantendo sempre o ponto de vista que, apesar das divergências ou por causa delas, Pedro e Paulo são dois lados da mesma moeda. É eficiente também em mostrar os anos de transição do Império para a República.

Memorial de Aires
Por Machado de Assis
Realismo. Escrito sob a forma do diário do aposentado Conselheiro Aires, diplomata aposentado que deixou a mulher morta em Bruxelas. Tudo se passa de 9 de Janeiro de 1888, aniversário da volta do diplomata de Bruxelas ao Brasil, até o fim de agosto do ano seguinte. Apesar de ter sido escrita por Aires e serem suas impressões que lemos (ele declara que queimará o diário quando o acabar, se não morrer antes), a história é sobre Fidélia e Tristão. Fidélia é uma viúva moça que ainda dedica ao marido, mesmo que só ao seu túmulo, dedicação. Aires aposta com Rita, sua irmã, que ela recasará um dia; talvez até com ele. Rita é "filha de empréstimo" do casal Aguiar e ainda muito triste pelo falecimento do marido e a situação familiar geral, á que o casamento foi como um Romeu e Julieta que não uniu as famílias, mas desuniu-as. Tristão é afilhado dos Aguiares e um tanto volúvel: indo a Lisboa para se tornar advogado, torna-se médico e político. Volta então ao Brasil para visitar seus padrinhos e "pais de empréstimo". Enquanto Aires vai narrando o cotidiano daquela situação, como que fora dela como estava Brás Cubas em suas Memórias Póstumas, morre o pai de Rita e ela finalmente se reconcilia com seu passado. Ela vai à fazenda paterna fazer os arranjos e volta mais tarde. A medida em que o tempo passa Tristão e Rita vão aproximando-se, até que ele se apaixona por ela, fato que confessa a Aires, que também a admirava, mesmo que nunca a dissesse e não fosse de modo apaixonado, como que apenas pela estética de o fazer. Quase chegando o tempo de voltar a Lisboa pelos fins de 1888, Tristão vai adiando a partida até que ele e Fidélia decidem se casar. Eles esperam a aprovação dos pais dele e depois até maio para o casamento em si. O casamento procede bem e deixa o casal Aguiar felicíssimo pela união dos "filhos" e pela permanência de Tristão que estava para partir. Alguns meses depois do casamento Fidélia e Tristão decidem viajar a Europa e tentam convencer o casal Aguiar a ir também, mas eles se negam. Eles recomendam ao Conselheiro que cuide do casal e, ao chegar a Lisboa, Tristão encontra-se eleito deputado (ele tinha se naturalizado português) e eles ficam, como era seu plano original; por isso aliás tentaram convencer o velho casal a acompanhá-los. O livro acaba com uma anotação sem data após 30/08/1889, com o casal Aguiar desolado pela partida dos "filhos". Contado todo sob a forma de um diário, com anotações com datas ao invés de capítulos, este livro foi o último escrito por Machado de Assis, e o foi para compensar a perda da esposa tem fortes tons autobiográficos. Entre os fatos importantes estão o fato de que Aires está se retirando de cena, assim como o autor que faleceu no ano da publicação do livro, encontra-se saudoso, é irônico, tem influência inglesa, perdeu a esposa, etc. Remete também ao primeiro romance maduro do autor, Memórias Póstumas de Brás Cubas, já que Aires encontra-se fora de cena (mas não tanto quanto Cubas) e livre para falar sem estar preso a convenções.


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